segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Rio de Janeiro, 16 de novembro de 2009

É, eu sumi e você nem se preocupou. Nossa, foram meses de ausência silenciosa, cartas não escritas, uma caneta no criado mudo cantando versos em braille no tato dos meus dedos. Tantas coisas aconteceram. Meus cabelos finalmente cresceram. Passei por tantos e desgradáveis lugares: hospital, ambulância, cemitério, bibliotecas vazias, praias lotadas de desconhecidos suados. Durante dias longos ,como minhas madeixas de anjo expulso do paraíso, andei hibernando. Entre às três da tarde e às duas da manhã lembrei de você. De um abraço que eu confesso: faz falta. De uma letra irritantemente arredondada e esnobe para escrever meus delírios sem aroma agradável. Apaixonei-me vagamente por um passante diário da minha rua cinzenta, mas nunca perguntei seu nome. Talvez daqui uns dias o convide para sair, só pra fingir que tenho vida social saudável. Ando cansada como sempre, muito cansada aliás. Finalmente voltei ao meu peso normal (um pouco além do normal, eu diria). O curso de desenho ficou pra trás. Planejando sair pra comprar mais livros. Tem sido agradável ler ao som de Damien Rice com um pouco de café adocicado. Resolver esquecer um pouco da vida. Ela me persegue de forma insane, não tenho motivos reais para abrir a porta para as cobranças, propagandas inúteis, santinhos de políticos que nunca vi. Encontrou alguém? Alguém que lhe abrace como eu? Que morda seus dedos de manhã para lembrar que me apaixounou diariamente? Perdoe a falta de concordância, sequência lúdica de palavras, coesão, mas nada (palavras ou fatos) fazem sentido para mim. Creio que nunca fizeram sentido, só reações em cadeia. Espero ter sido uma marca que nunca cicatrize. Não quero que morra, por não querer mais um enterro em tão curto espaço de tempo. Desejo realmente que viva, longe ou perto, mas que eu sinta um pouco do seus arfar mais perto.

Ana Luiza
P.S.:Se puder responda.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Rio de Janeiro, 11 de fevereiro de 2009

Eu vi toda a minissérie da Maysa, comprei uma nova gata e finalmente cortei meus longos e emaranhados cabelos. Estou cada dia mais mau humorada, do jeitinho que você gosta. Ando levemente mais magra, meus rápidos sorrisos tímidos são mais ossudos por agora. Estou terrivelmente cansada, inteiramente inerte das ações. Sua ausência por agora tem sido minha maior dor, meu mais profudo câncer maligno. Eu me rastejei, humilhei cheirando suas roupas enquando adormecia com lábios rosados molhados por outra. Assumo a minha covardia cotidiana, mas agora você se dança as mesmas cantigas que eu. Sabes como sou, como meus atos são sutilmente ácidos, mas me amava mesmo machucado pelas minhas mãos. Não tem mais motivos ou cara pra ocultar a verdade latente: não me quer mais. Asssuma que adormece todas as noites nos braços frios de outra, aquela que nunca te amará como eu. Esse seu discurso de que a culpa na verdade é minha, que a minha falta de atos, coragem vem agora em vão, não fazem a menor diferença nas noites onde meus lençóis mostram-se puídos.
Hoje assisti Amor nos tempos do cólera (ou algo parecido). Quando agarrei o telefone e te liguei pra dizer que te espero por 53 anos ou mais, porém pelas contas que fiz mentalmente ela deve estar na sua casa hoje. Todas as vezes que o som do ocupado faz-se constante sei que trocas juras com ela pelas mesmas linhas que me cortam. Dizer que te amo não muda nada ou apenas incomoda alguém. Absolutamente nada do que faço mudará meus erros, por isso me calarei. Deve estar rindo e pensando: "ela sempre diz que vai embora e logo volta". Sei o quão fraca e estúpida sou ao teu lado, mas esse estado de hibernação que inauguro é longo. Um dia floresço ou morro pra em algum carnaval esquecido renascer em outra estação tardiamente fria.

Espero ser forte e viver em paz
"Quero ser feliz ao menos,
Lembra que o plano era ficarmos bem?"

Ana Luiza
P.S.:Sim, pode me mandar beijos, eles me confortão quando o sono falta.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Dias Cinzas

Segunda-feira, 26 de janeiro de 2009.

"Chove lá fora, faz frio aqui dentro. que vontade de te abraçar, amor, quando chove fica mais triste a espera por alguém que não vai chegar..."

É curioso como sempre achei essa música da Patrícia Marx um tanto brega, desde quando eu era pequeno e a ouvia tocando na trilha sonora de alguma novela gobal, e hoje, ah como as coisas mudam, essa parece ser a letra mais linda do mundo, faz tanto sentido que fico absurdado como os fatos da vida nos moldam, nos mudam e fazem um simples verso de música ser resumo de uma tarde inteira de nossas vidas.

Em dias cinzas como hoje as coisas sempre ficam maiores, até escrevo cartas endereçadas a você sem me cobrar um porquê severo sobre isso. Mas enfim, ao menos sei bem o que escrevo, só queria dizer que me fazes falta vezenquando, saudade dói.

Um abraço. Talvez um beijo, não sei se ainda posso.